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“Vaga Pronta”: o escândalo do Sine que escancarou o balcão de favores de Araguaína

  • Foto do escritor: Flávio Guimarães
    Flávio Guimarães
  • 11 de out.
  • 4 min de leitura


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“Já começou hoje de manhã.”A frase, dita por uma servidora do Sine de Araguaína, e capturada em um dos mais de 150 áudios obtidos pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), é o retrato fiel de uma prática antiga — e malcheirosa — que insiste em sobreviver no Tocantins: o uso de um órgão público como moeda de troca política.

O caso que parecia um simples desvio administrativo agora se transformou num escândalo eleitoral, com potencial de implodir o grupo político do deputado estadual Jorge Frederico (Republicanos) e de expor o que há de mais obscuro na relação entre poder e emprego público.

Um emprego, mil favores

O Sine — Sistema Nacional de Emprego, criado para ajudar o trabalhador, acabou virando, segundo a investigação, um balcão de favores travestido de política social.Lá dentro, as vagas não eram conquistadas, eram herdadas.E o nome disso, nas conversas interceptadas, tinha até apelido: “Vaga Pronta” — a vaga que já tinha dono antes mesmo de ser aberta.

Em um dos áudios, uma funcionária avisa:

“Não precisa divulgar a vaga de recepcionista, ela já começou hoje.”

Em outro, o alerta é ainda mais direto:

“Essa não é pra sistema, é indicação.”

Esses diálogos, antes sussurrados nos corredores, agora estão nas mãos do Ministério Público e da Polícia Federal — e prometem tirar o sono de muito político em Araguaína.

Do Sine ao palanque

A investigação começou em fevereiro de 2024, após uma denúncia anônima enviada ao MPT.O relato falava em servidores direcionando vagas para apadrinhados, muitas vezes indicados por pessoas ligadas ao gabinete de Jorge Frederico .O então diretor do órgão, Leomar Barroso, também aparece citado — ele que, no mesmo ano, tentou se eleger vereador, enquanto o deputado disputava a prefeitura e acabou derrotado nas urnas.

Para o MPT, as coincidências eleitorais não parecem obra do acaso. O esquema, segundo o inquérito, funcionava como uma engrenagem paralela de campanha, em que emprego valia voto e vaga garantida significava fidelidade política.

Os áudios que Araguaína não queria ouvir

Ao todo, foram mais de 150 gravações entregues ao MPT — um acervo que mistura conversas banais de servidor com ordens diretas de manipulação de vagas. Em alguns trechos, há menções a listas de nomes, planilhas e até solicitações “de cima”.

“Essa vaga vai pra pessoa que o gabinete pediu”, diz uma voz feminina em um dos registros.
“Dá baixa antes que o sistema abra”, responde outra.

O material foi descrito por um procurador como “prova robusta de direcionamento”.O MPT analisou os áudios, transcreveu trechos e enviou tudo à Procuradoria Regional Eleitoral e à Polícia Federal, que já acompanham o caso.

De denúncia trabalhista a bomba eleitoral

O que começou como um inquérito trabalhista se transformou, em outubro deste ano, em Procedimento Preparatório Eleitoral. A 1ª Promotoria Eleitoral de Araguaína afirma que há “preponderância de indícios de uso da máquina pública para fins eleitorais” e determinou que a Delegacia da PF informe o andamento do Inquérito nº 2243/2025.

O documento do MP, obtido pela reportagem, é categórico:

“Há fortes indícios de que servidores e pessoas ligadas a agentes políticos utilizaram a estrutura do Sine para obtenção de vantagem eleitoral.”

A reação nos bastidores: medo, silêncio e apagão de informações

Desde que a portaria veio à tona, o clima é de tensão total nos bastidores de Araguaína. Servidores foram orientados a não falar com a imprensa, evitar mensagens sobre o tema e apagar conteúdos antigos de grupos internos. Nos bastidores do grupo de Jorge Frederico, fala-se em “operação abafa” e “caça aos vazamentos”.

“Tem gente passando a noite inteira revisando e-mails e planilhas, com medo do que pode aparecer”, revelou uma fonte próxima ao órgão.

Enquanto isso, promotores e delegados seguem o rastro de documentos, áudios e mensagens de celular que, segundo fontes do próprio MP, podem revelar como funcionava o fluxo de indicações políticas dentro do Sine.

O retrato de uma velha prática

O caso “Vaga Pronta” é mais que uma denúncia local — é um espelho incômodo da política tocantinense. Um retrato nu e cru da velha lógica da troca, onde o poder público é usado como ferramenta de influência, e o emprego, como recompensa por lealdade.

Em vez de oportunidade, o cidadão comum encontra porta fechada e vaga prometida. Em vez de transparência, o que se vê é clientelismo institucionalizado — e agora documentado.

“No Tocantins, a fila anda... mas só pra quem tem padrinho”, ironizou um servidor que colaborou com as investigações.

O que vem por aí

O Ministério Público Eleitoral deu 90 dias para a conclusão das diligências iniciais. A Polícia Federal já foi notificada e deve ouvir novas testemunhas nas próximas semanas. Fontes afirmam que há mensagens de WhatsApp e e-mails que podem comprovar indicações diretas vindas de gabinetes políticos.

Se confirmadas, as provas devem mudar o rumo da investigação e empurrar o caso para o campo criminal. E, a depender do que vier à tona, o escândalo do “Vaga Pronta” pode se transformar no maior abalo político da história recente de Araguaína.

Linha do tempo do caso “Vaga Pronta”

  • Fevereiro de 2024 – Denúncia anônima chega ao MPT relatando direcionamento de vagas no Sine.

  • Março de 2024 – MPT abre inquérito e obtém mais de 150 áudios e documentos.

  • Julho de 2024 – Caso é encaminhado à PF e ao Ministério Público Eleitoral.

  • Outubro de 2025 – MP Eleitoral instaura procedimento e aciona a PF.

  • Outubro de 2025 (atual) – O escândalo estoura e mergulha Araguaína em uma crise política sem precedentes.

O que dizem os citados

Procurado pela reportagem, o deputado Jorge Frederico não respondeu aos questionamentos. A direção do Sine de Araguaína limitou-se a dizer que “não comenta investigações em andamento”. O Ministério Público do Trabalho confirmou o envio dos áudios à Polícia Federal e ao MP Eleitoral, mas não revelou detalhes do conteúdo das provas.

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