Editorial | Mauro Campbell e a Justiça que escolhe seus aliados
- Welton Ferreira

- 4 de out.
- 2 min de leitura

A decisão do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), de devolver a liberdade plena ao ex-governador Mauro Carlesse (Agir), não pode ser analisada apenas como um ato jurídico. Ela tem nome, endereço e consequências políticas imediatas no Tocantins.
Carlesse, acusado de corrupção, desvio de recursos e até de planejar fuga para o exterior, teve o passaporte de volta, ganhou o direito de circular livremente e até de disputar cargos públicos novamente. Tudo isso porque Campbell entendeu que as provas que sustentaram a prisão perderam validade.
Mas, quando o assunto foi o governador Wanderlei Barbosa, o mesmo ministro não demonstrou qualquer benevolência: determinou seu afastamento com base em investigações frágeis, sem dar margem para defesa prévia. A diferença de critérios é tão gritante que só pode ser explicada pelos bastidores da política.
E é nesses bastidores que se encontra a resposta. Com a volta de Carlesse ao jogo, quem se fortalece é Olintho Neto, um dos maiores parceiros políticos do ex-governador. Olintho foi alvo de investigações no escândalo do lixão hospitalar de Araguaína, que envolvia contratos milionários da coleta de lixo e suspeitas de fraudes em licitações. Na época, havia indícios de pagamentos de propina e superfaturamento que poderiam comprometer diretamente sua carreira política.
O que aconteceu? Carlesse interferiu diretamente, determinando a transferência dos delegados que conduziam o inquérito para pequenas cidades do interior do Tocantins. Com isso, as apurações foram praticamente enterradas, e Olintho saiu ileso, blindado pelo poder do então governador. Esse episódio mostrou como a máquina estatal foi usada não para proteger o povo, mas para salvar aliados de investigações incômodas.
Já a queda de Wanderlei interessou diretamente a políticos que viram no afastamento uma chance de abocanhar cargos estratégicos. No Legislativo, parte da base governista se vendeu rápido, garantindo blindagem a quem temia perder espaço. No Executivo, secretarias e diretorias foram loteadas como prêmio a quem trabalhou pela instabilidade.
No fim, o ministro Campbell aparece como o fiel da balança que não pesa com justiça, mas com conveniência. Para Carlesse, a indulgência; para Wanderlei, o rigor implacável.
O povo do Tocantins precisa entender: decisões como essas não apenas mancham a credibilidade da Justiça, mas também moldam o destino político do Estado. Se Carlesse volta ao jogo e Wanderlei cai, não é apenas coincidência jurídica. É a prova de que a toga, nas mãos erradas, pode se transformar em instrumento de poder.












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